| 12 Novembro 2012
Artigos - Terrorismo
Artigos - Terrorismo
O
uso das minas terrestres é só um capítulo dos muitos crimes que as FARC
cometem contra a Colômbia. Porém, é um capítulo enorme que não pode ser
deixado de lado.
O
vice-presidente Angelino Garzón, em uma declaração de 26 de setembro
passado, revelou que mais de 10 mil pessoas morreram na Colômbia
unicamente pelas explosões causadas pelas minas terrestres que as
guerrilhas FARC e ELN plantaram no território nacional desde 1990.
Ontem um soldado morreu e outro foi gravemente ferido em um campo minado em Toribío, Cauca, o município colombiano que talvez tenha sido o mais atacado pelas FARC: mais de 600 atentados desde 1980. No passado 2 de novembro, um menino de oito anos de idade morreu quando explodiu outra mina terrestre que as FARC haviam plantado na aldeia Santa Inés de El Carmen, perto de Ocaña. Nesse mesmo dia, no estado de Nariño, dois soldados morreram e outros quatro foram feridos ao entrar em um campo minado instalado pela frente 22 das FARC em Sumbiambi, uma aldeia indígena.
Tudo
isso ocorre em silêncio e na véspera do início das “conversações de
paz” em Havana, entre o Governo colombiano e as FARC. O presidente
Santos desta vez não disse uma só palavra sobre a gravidade de tais
crimes. As FARC também guardaram silêncio. É como se a morte desse
menino e desses soldados tivessem sido atrocidades já perdoadas, como se
fizessem parte de uma conta macabra de baixas de rotina que deve ser
ocultada, pois a agressão terrorista que a Colômbia sofre lança vítimas
todos os dias sem que se consiga influir nos planos “de paz” do governo,
e sem que isso comova a ninguém, nem as autoridades, nem a justiça em
particular.
Essas
mortes foram mencionadas em minúsculos artigos que a imprensa publicou
em uns poucos jornais. Hoje, informações desse estilo tem-se que
procurá-las com lupa na imprensa colombiana.
Passada
dos limites e aterrada pela quantidade de selvagerias que diariamente
as FARC, o ELN e as Bacrim cometem, a opinião pública não sabe o que
fazer. Guarda silêncio embora no passado tenha sabido se mobilizar
várias vezes nas ruas contra a barbárie das FARC.
A
Colômbia é um país excessivamente afetado pelo terrorismo. O uso das
minas terrestres é só um capítulo dos muitos crimes que as FARC cometem
contra a Colômbia. Porém, é um capítulo enorme que não pode ser deixado
de lado. Segundo o International Campaign for the Banning of Landmines
(ICBL), a Colômbia é o terceiro país mais afetado do mundo pelas minas
terrestres. Só o Afeganistão e o Camboja superam a Colômbia nessa imensa
desgraça. Colômbia, El Salvador e Nicarágua são os únicos países do
continente americano que sofrem desse flagelo. Porém, o mais golpeado é a
Colômbia.
O
vice-presidente Angelino Garzón, em uma declaração de 26 de setembro
passado, revelou que mais de 10 mil pessoas morreram na Colômbia
unicamente pelas explosões causadas pelas minas terrestres que as
guerrilhas FARC e ELN plantaram no território nacional desde 1990.
Dessas vítimas, 6.222 eram militares e policiais, e 3.779 eram civis.
Segundo fontes oficiais, em 31 dos 32 estados do país as guerrilhas
plantaram minas terrestres. Mas minas terrestres artesanais foram
utilizadas também pelas FARC desde os anos 60. Tirofijo fez fabricar
minas terrestres durante sua ofensiva para se apoderar de Marquetalia.
Porém, já esquecemos.
Como
é possível que um tema tão grave como este, o das minas terrestres
plantadas pelas FARC e seus aliados, não seja mencionado nem uma só vez
no documento que o governo de Juan Manuel Santos e as FARC assinaram
pelas costas do país e que o jornalista Francisco Santos deu a conhecer,
por sorte, em setembro passado?
Ao
semear essas minas, as FARC e o ELN provam que sua guerra não é só
contra o Estado senão contra o povo colombiano e, sobretudo, contra suas
camadas mais pobres e necessitadas. Além dos soldados e policiais, a
maioria das vítimas dessas minas na Colômbia são crianças, jovens,
mulheres, idosos, camponeses, indígenas e afro-descendentes. Os animais
dos camponeses também são vítimas dessas minas.
Em
cerca de 626 cidades e centros de todos os estados da Colômbia houve
incidentes com essas minas. Nem Bogotá escapa. Em 6 de outubro de 2012, a
polícia apreendeu 44 minas terrestres que encontrou em uma casa do
bairro Villa Diana, na periferia da capital. As autoridades estimaram
que esses artefatos iam ser “transportados ao oriente colombiano”.
Entretanto, uma mina terrestre tipo lapa, que pode ter sido fabricada em
Bogotá, feriu gravemente o ex-ministro e jornalista Fernando Londoño
Hoyos em 15 de maio de 2012, matou dois de suas escoltas e feriu outros
civis nesse atentado em pleno centro da capital do país. Os únicos
pontos isentos até agora desse açoite das minas terrestres são as ilhas
San Andrés e Providencia. E o pior: uma mina dessas pode ter uma “vida
útil” (horrível antífrase) de 50 anos.
A
União Européia anunciou há dois meses que entregaria ao Governo
colombiano onze milhões de dólares para ajudar as vítimas dessas minas e
para que trabalhe no desminado dos campos. Essa ajuda mais parece uma
esmola ante a amplitude do fenômeno.
Uma
parte importante do orçamento e das tarefas das Forças da ordem
colombianas consiste em detectar e neutralizar essas minas e descobrir
as fábricas clandestinas de minas e de outros explosivos das FARC e do
ELN. Pois a atividade das guerrilhas é enorme nesse terreno. Em novembro
de 2011, por exemplo, tropas de uma Brigada Móvel do Exército
descobriram em Antioquia uma fábrica artesanal de minas terrestres da
Frente 18 das FARC. Acharam ali quase meia tonelada de minas terrestres:
504 minas já prontas, assim como 461 detonadores, 320 seringas de
plástico, 100 metros de cabo detonante, 70 garrafas plásticas, um
cilindro com 20 libras de explosivo e uma rampa de lançamento. Segundo
as autoridades, nesse local preparavam um atentado contra a base militar
de Tarazá. Durante os primeiros dez meses de 2011, as tropas de uma só
divisão do Exército apreenderam 2.271 muambas explosivas e 31 depósitos
clandestinos de minas, armas e explosivos.
As
FARC não plantam essas minas apenas no chão. Algumas as penduram ou
prendem nas árvores, para causar mortes ou estragos maiores na cabeça e
braços das vítimas. Foi o que ocorreu a Freddy Ramírez, um soldado de 22
anos, que perdeu um braço por uma mina dessas em abril de 2007, em uma
aldeia de Chaparral, Tolima.
Apenas
entre os anos de 2000 e 2007, 1.398 colombianos morreram por causa
dessas minas e 4.527 foram feridos, segundo cifras da Vice-Presidência
da República da Colômbia. Segundo estatísticas do Exército, nos
primeiros quatro meses de 2007, 192 campos de minas foram neutralizados,
dos quais 11 estavam localizados em zonas petroleiras e em estradas do
país.
Em
julho de 2007, José Miguel Vivanco, diretor para as Américas de Human
Rights Watch, condenou as FARC pela fabricação e uso dessas minas e
enfatizou: “Não há uma só desculpa para justificar o uso dessas armas que golpeiam ao azar”.
Ante
a extensão geográfica do uso das minas terrestres pode-se concluir que
imensos setores do campo colombiano, de suas terras cultiváveis, de seus
bosques, de suas planícies, de suas planícies desertas, de suas selvas,
de suas vias de comunicação, foram subtraídos pela força da atividade
humana corrente dos colombianos. Em outras palavras, ao roubo de terras
que as FARC fizeram mediante a violência direta e a extorsão, fenômeno
denunciado dias atrás pelo Governo, devem-se somar as centenas de
milhares de hectares que as FARC tiraram dos cultivadores, camponeses,
indígenas e afro-descendentes colombianos mediante o uso das minas
terrestres. Porém, esse cálculo ninguém fez.
Nesse
sentido, como é possível que o presidente Santos, mediante seus
plenipotenciários, esteja disposto a discutir na semana que vem com as
FARC, em Havana, acerca de temas angelicais como a “política de
desenvolvimento agrário integral”, “fronteira agrícola e zonas de
reserva”, “desenvolvimento social: saúde, educação, moradia, erradicação
da pobreza” e as outras belezas que contém o documento intitulado
“Acordo geral para o término do conflito e a construção de uma paz
durável e duradoura”, sem que antes advirta a seus interlocutores que
qualquer ponto de uma eventual “reforma agrária revolucionária” não pode
ser nem discutido nem negociado, se antes não se resolve o problema
insondável das minas terrestres que as FARC plantaram e plantam todos os
dias na geografia do país? O silêncio dos negociadores ante esse tema é
insuportável.
Tradução: Graça Salgueiro
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