segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MSM: A Canonização Estatal de Marighella

marighelapcdobAnistiar Carlos Marighella e chamá-lo de “herói” é, no mínimo, uma ofensa terrível a todos aqueles que perderam seus bens, sua saúde e, em última instância, suas vidas em virtude da sanguinária sede de poder das hostes marxistas.


“Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução.”


Essa frase é bastante conhecida e mostra um pouco do caráter de quem a escreve: Carlos Marighella. Membro da Executiva do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que abandonou em 1966 por achar que o partido estava traindo o sacrossanto dever que todo comunista tem de fazer a revolução, Marighella fundou a Aliança Libertadora Nacional (ALN), um dos grupos mais cruéis da guerrilha marxista brasileira que atuou durante o Regime Militar (1964 – 1985). A ALN foi responsável por assaltos, sequestros, atentados a bomba e diversos assassinatos. Seu objetivo era claro: instaurar uma ditadura marxista-leninista em território brasileiro.

Ainda que ele mesmo se assumisse guerrilheiro, terrorista e assaltante, não é essa a visão que o governo federal tem. O Diário Oficial da União do dia 9 de novembro deste ano traz a seguinte portaria:
PORTARIA Nº 2.780, DE 8 DE NOVEMBRO DE 2012
O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no artigo 10 da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002, publicada no Diário Oficial de 14 de novembro de 2002 e considerando o resultado do julgamento proferido pela Comissão de Anistia na 6ª Sessão de Julgamento da Caravana de Anistia, na cidade de Salvador/BA, realizada no dia 05 de dezembro de 2011, no Requerimento de Anistia nº 2011.01.70225, resolve:

Declarar CARLOS MARIGHELLA filho de MARIA RITA DO NASCIMENTO MARIGHELLA, anistiado político “
post mortem”, nos termos do artigo 1º, inciso I, da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002.
JOSÉ EDUARDO CARDOZO

Somente isso já seria suficiente para causar uma profunda indignação em qualquer pessoa com mínimo conhecimento da nossa história. No entanto, o blog do Ministério da Justiça – um veículo oficial de comunicação desse órgão do Executivo – fez questão de colocar uma cereja nesse bolo: chamou Marighella de “herói da resistência à ditadura militar”.

A organização fundada e dirigida por esse “herói” foi responsável por bárbaros crimes. Em 22 de junho de 1969, por exemplo, guerrilheiros da ALN atacaram os policiais militares Guido Boné e Natalino Amaro Teixeira: a viatura em que estavam foi incendiada, e os ambos morreram carbonizados. Em outra ocorrência, datada de 3 de setembro do mesmo ano, o comerciário José Getúlio Borba, que trabalhava em uma loja de aparelhos eletrodomésticos, foi morto por guerrilheiros que reagiram a voz de prisão. E, ao contrário de serem casos isolados, essas ocorrências fazem parte da própria essência da bandeira que Carlos Marighella empunhou durante toda sua vida: a da ditadura do proletariado.

A alegação de que aqueles que pegaram em armas contra o governo militar objetivavam a “redemocratização” do Brasil é empulhação pura e simples, e todos estão cansados de saber disso. No entanto, o óbvio ululante se tornou hoje em dia do fruto de uma hermenêutica deturpada, o que gera uma visão distorcida das coisas. Essa lógica produz inferências interessantes: 1) o governo militar foi algo ontologicamente pérfido e vil; 2) o contrário do governo militar é a democracia; 3) se alguém lutou de alguma forma contra o governo militar, era porque só tinha em mente a “restauração” do regime democrático; 4) a luta armada só surgiu em face da violência do regime, e foi, portanto, tão-somente uma característica acidental (e uma reação legítima) da luta contra o governo militar.

Se não é suficiente interpretar os atos criminosos de Marighella e seus camaradas como o que realmente foram – ações cruentas e desprezíveis que visavam à transformação do Brasil em uma ditadura comunista –, então recorramos às próprias palavras de Marighella.

Quando o fundador da ALN rompeu oficialmente com o PCB, em 1966, alegou que o partido estava traindo os ideais revolucionários que herdara ao supostamente defender uma via pacífica de ação:

Em vez de uma tática e estratégia revolucionárias, tudo é reduzido – aberta ou veladamente – a uma impossível e inaceitável saída pacífica, a uma ilusória redemocratização (imprópria até no termo).

Parece não se ter compreendido Lênin quando em “Duas Táticas” afirma que “os grandes problemas da vida dos povos se resolvem somente pela força”.
Em outra parte, falando sobre a vitória, acrescenta Lênin que esta “deverá apoiar-se inevitavelmente na força armada das massas, na insurreição”, e não em tais ou quais instituições criadas “por via legal” e “pacífica”.
[1]
A violência não era uma deturpação da oposição ao regime militar oriunda do medo e do desespero gerados pela repressão: a violência era a manifestação mais honesta e clara do espírito revolucionário. Marighella não apenas o admitiu claramente, mas invocou-o como um dos motivos pelos quais estava abandonando o PCB e seguindo um caminho próprio.

Ao fundar o Agrupamento Comunista de São Paulo, que depois se tornaria a ALN, Marighella deixa ainda mais evidente que a violência guerrilheira é a própria essência de seu afã revolucionário:

Pensamos sobre a guerrilha o mesmo que a Conferência da OLAS [Organização Latino-Americana de Solidariedade] quando, no ponto 10 de sua “Declaração Geral”, apresenta a guerrilha como embrião dos Exércitos de Libertação e como método mais eficaz para iniciar e desenvolver a luta revolucionária na maioria dos países latino-americanos.

Não se trata, portanto, de desencadear a guerrilha como um foco, como querem insinuar nossos inimigos, acusando-nos daquilo que não pretendemos fazer.

O foco seria lançar um grupo de homens armados em qualquer parte do Brasil, e esperar que, em consequência disso, surgissem outros focos em pontos diferentes do país. Se assim fizéssemos, estaríamos adotando uma posição tipicamente espontaneísta e o erro seria fatal.

Para nós, a guerrilha brasileira não terá condições de vitória senão como parte de um plano estratégico e tático global.

Isto quer dizer que a guerrilha exige preparação e que o seu desencadeamento depende dessa preparação. A preparação da guerrilha, coisa muito complexa e muito séria, não pode ser vista com leviandade. Tal preparação exige o adestramento do combatente, a coleta de armas, a escolha do terreno, a fixação da estratégia e da tática a seguir, e, por fim, o estabelecimento do plano de apoio logístico.
[2]

A guerrilha não é, portanto, apenas um recurso extremo utilizado em casos excepcionais: para Marighella, “a guerrilha é a vanguarda revolucionária, o seu núcleo fundamental, e constitui o centro do trabalho dos comunistas e demais patriotas”. Não é possível revolução sem ação revolucionária, e esta se apóia essencialmente na violência. Mais adiante, escreve Marighella:
Precisamos agora de uma organização clandestina, pequena, bem estruturada, flexível, móvel. Uma organização de vanguarda para agir, para praticar a ação revolucionária constante e diária, e não para permanecer em discussões e reuniões intermináveis.

Uma organização vigilante, severa contra os delatores, aplicando os métodos de segurança eficientes para evitar que venha a ser destroçada pela polícia e para impedir a infiltração do inimigo.

Os membros desta organização são homens e mulheres decididos a fazer a revolução. Os comunistas de tal organização são companheiros e companheiras de espírito de iniciativa, livres de qualquer espírito burocrático e rotineiro, que não esperam pelos chamados assistentes, nem ficam de braços cruzados aguardando ordens.

Ninguém é obrigado a pertencer a esta organização. Os que a aceitam, tal como ela é e dela vêm fazer parte, só o fazem voluntariamente, só querem ter compromissos com a revolução.
[3]

Não havia santos. Não havia inocentes. As coisas sempre, desde o começo, foram colocadas de maneira clara, claríssima: acreditamos na violência, abraçamo-la como um modus vivendi, deixamo-la penetrar em cada um de nossos poros e a ela nos entregamos de corpo e alma sem pressões, voluntária e deliberadamente. Em outro documento, Marighella repisa a defesa da violência:

As organizações revolucionárias que se dedicaram ao proselitismo no transcurso de 1968 não conseguiram avançar. A outra maneira do crescimento das organizações revolucionárias rejeita o proselitismo e dá ênfase ao desencadeamento das ações revolucionárias, apelando para a violência extrema e o radicalismo.

Foi esta a maneira que preferimos, por ser a mais convincente, quando se trata de derrubar a ditadura com a força das massas e através da luta armada, repudiando o jogo político das personalidades e grupos burgueses.

Quando utilizamos o método da ação revolucionária, os elementos que vêm às nossas fileiras só o fazem porque desejam lutar e sabem que não encontrarão outra alternativa entre nós senão a luta prática e concreta.

Sendo o nosso caminho o da violência, do radicalismo e do terrorismo (as únicas armas que podem ser antepostas com eficiência à violência inominável da ditadura) os que afluem à nossa organização não virão enganados, e sim, atraídos pela violência que nos caracteriza.
[4]
Não havia perspectiva de nada parecido com democracia nas táticas, nas ações e nos planos estratégicos de Marighella. Ele não foi um lutador da liberdade, alguém que dedicou sua vida a uma causa nobre, elevada: Marighella foi um facínora, um homem que aspirava “à tomada do poder pela violência da guerra revolucionária”.

chandler
Cap. Charles Rodney Chandler, uma das vítimas dos “heróis” incensados pelo governo.
Anistiar Carlos Marighella e chamá-lo de “herói” é, no mínimo, uma ofensa terrível a todos aqueles que perderam seus bens, sua saúde e, em última instância, suas vidas em virtude da sanguinária sede de poder das hostes marxistas. Com esse gesto, o governo brasileiro indica perfeitamente quem deve compor o panteão de heróis da nação: “guerrilheiros, terroristas e assaltantes”, homens devotados ao coletivismo ditatorial, à supressão da liberdade, à perseguição, à barbárie, à morte, homens que pavimentaram com os crânios de inocentes seu caminho revolucionário.

 
Notas:

[1] “Carta à Executiva”, 1º de dezembro de 1966. In: Escritos de Carlos Marighella. São Paulo: Editorial Livramento, 1979, p. 93.

[2] “Pronunciamento do Agrupamento Comunista de São Paulo”, 1968. In: Escritos de Carlos Marighella. São Paulo: Editorial Livramento, 1979, p. 132.

[3] “Pronunciamento do Agrupamento Comunista de São Paulo”, 1968. In: Escritos de Carlos Marighella. São Paulo: Editorial Livramento, 1979, p. 133-134.

[4] “O Papel da Ação Revolucionária na Organização”, maio de 1968. In: REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA DE SÁ, Jair (Org.). Imagens da Revolução: Documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961 – 1971. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero, 1985, p. 212.


Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UnB.

MSM: O Desfile não Acabou

De acordo com Le Bon, “sufocar a competição (…) como propõem os socialistas, pode levar apenas a paralisar as principais alavancas da presente era”. Como o socialismo é uma religião, não se permitirá que nenhuma objeção prática fique no caminho da sua realização. 

Metaforicamente falando, os Estados Unidos estão afundando. O navio estatal está acentuadamente inclinado para um lado (notadamente o esquerdo). Muitos acreditam que estaremos debaixo d'água antes que chegue o próximo pleito. Por esse motivo, há passageiros que querem abandonar o navio. De acordo com o periódicoThe Daily Caller, o site da Casa Branca está “inundado com petições de secessão advindas de 20 estados”. Certamente, esses peticionários estão esquecendo das palavras do Juramento de Fidelidade, onde se diz: “... uma Nação sob Deus, indivisível, com liberdade e justiça para todos”. Igualmente, o governo pode ser acusado de ter esquecido a “liberdade e justiça para todos”. E praticamente todos esqueceram a parte onde é dito que estamos “sob Deus”[1].

Após os resultados da eleição da semana passada, Donald Trump supostamente tuitou: “Devemos fazer uma revolução neste país!”; slogan semelhante é seguido pelos financeira e politicamente frustrados. Ao mesmo tempo, contudo, o partido que reivindicou a vitória na eleição não é necessariamente o vencedor de alguma coisa, pois a Casa Branca hoje em dia é um prêmio de consolação, aparentemente dado como uma piada em reconhecimento a uma terrível performance. O que resta é presidir sobre uma grande descendente. Com a Europa em crise e as dívidas acumuladas em todos os lugares que se olha, não há para onde ir.
Como os leitores desta coluna sabem, ultimamente eu fiquei fascinado com o livro The Psychology of Socialism de Gustave Le Bon. Publicado pela primeira vez em 1898, Le Bon ofereceu alguns prognósticos relacionados à nossa época. Ele disse que o triunfo do socialismo era inevitável. Mas ele também disse que o socialismo não duraria muito. A razão do triunfo socialista pode ser constatada na produção em massa de pessoas desadaptadas e na paparicação dos degenerados. Subsequentemente, o fracasso do socialismo surgiria no empoderamento desses mesmos degenerados.
Curiosamente, Le Bon acreditava que os Estados Unidos eram particularmente propensos ao que ele chamava de “o futuro ataque dos desadaptados”; mais até que a Europa, pois as causas de inveja e ressentimento são mais salientes na sociedade americana por conta do seu mecanismo político. Ademais, ele explicou que os Estados Unidos eram racialmente divididos e isso poderia ter implicações no futuro recrutamento do socialismo revolucionário. Ele vaticinou que uma vasta maioria da população negra da América, por conta do mau tratamento sofrido no passado, poderia ser tentada a participar de uma revolução socialista. Se essa tal divisão trágica ocorresse, Le Bon avisou que os “anglo-saxônicos da América […] conseguirão superar os perigos que os ameaçam, mas isso será conseguido ao custo de um conflito mais destrutivo do que qualquer outro registrado na história”.

Todo americano deve estremecer ao ouvir tal predição se considerar os acontecimentos recentes e o modo pelo qual o assunto racial tem sido usado em conexão com os programas socialistas dos Estados Unidos. Após ter feito tal predição, Le Bon recuou dizendo que a sociologia ainda não tinha capacidade para fazer predições totalmente certas sobre o futuro por não ser uma ciência. Mas segundo ele, há algumas verdades desveladas que devem estar contidas no futuro. Em geral, ele explicou, “podemos ter pouca influência no presente, porque o presente é o desenrolar de um passado que nada se pode fazer para mudá-lo”. Ele também aponta em seguida que o observador atento “está bem fundamentado ao dizer que essas nações que estão em plena decadência continuarão em seu declive”. A consequência desse declive é o socialismo e a “completa subversão das instituições nas quais nossas civilizações repousam...”. A catástrofe vem logo a seguir, com naturalidade. “Essas predições são de um caráter muito generalizado”, disse Le Bon, “que talvez tenham pouco em comum com aquelas verdades simples e eternas que chamamos de platitudes”.

Em outras palavras, a ascendência e o sucesso do socialismo segue-se após o alastramento da nossa decadência assim como a noite vem depois do dia. E se qualquer um quiser negar a decadência do atual estado social, não serão fatos ou argumentos que os convencerão – que giram em torno da posição ocupada por eles no olho desse mesmo furacão. Quanto ao futuro do socialismo, Le Bon observou que “boa parte das aspirações socialistas estão em direta contradição com as necessidades que governam o mundo moderno, de modo que sua realização poderia nos levar aos períodos mais baixos pelos quais a sociedade passou tempos atrás”.

A competição é a principal lei da sociedade humana e da economia de mercado. Não se pode criar uma forma alternativa de sociedade eliminando a competição, como querem os socialistas. De acordo com Le Bon, “sufocar a competição (…) como propõem os socialistas, pode levar apenas a paralisar as principais alavancas da presente era”. Como o socialismo é uma religião, não se permitirá que nenhuma objeção prática fique no caminho da sua realização. “É por essa razão”, continuou Le Bon, “que o socialismo constitui o mais formidável dos perigos que até agora ameaçaram as sociedades modernas”.

Uma revolução socialista envolveria a destruição da riqueza e também poderia envolver a destruição das pessoas. Deve ser lembrado, além disso, que todas as revoluções são desencadeadas por aqueles que estão no poder. “As ordens para as revoltas sociais sempre vêm de cima, nunca de baixo”, escreveu Le Bon. O socialismo, segundo ele, é um estado mental que ele caracteriza como “um humanitarismo emocional” que começa com bons sentimentos e termina “na guilhotina”. É o humanitarismo emocional que faz com que as “classes dominantes” percam a fé nas velhas leis e tradições pelas quais a civilização foi construída. Essa perda de fé culmina em uma transição de uma forma de religião para outra.

Em outro lugar, Le Bon disse que a “Providência Estadista tornou-se herdeira da Providência Divina...”. Conforme ele explicou, a religião socialista estava então esperando pela vinda dos seus deuses. Isso foi em 1898. Agora temos diante de nós um desfile de açougueiros e demagogos como Lênin e Stálin, Hitler, Mao e Pol Pot. E esse desfile não acabou. Aqui nos Estados Unidos ele está apenas começando.

Terminarei com uma citação do livro We Are Doomed de John Derbyshire: “Está mais ou menos implícito que o empreendimento privado existe para alimentar o behemoth do setor público”.

E assim por diante.


Nota:
[1] “...one Nation under God”. Nesse caso, o termo under traduzido de modo contrato para “sob” significa “sob a proteção de” ou “protegida por”. (N.T.)

MSM: Eu Sou Um Conservador


Os principais países desenvolvidos têm, todos eles, partidos conservadores que disputam e vencem eleições. Por que será que só aqui, no Brasil, os conservadores relutam em se admitir como tal?

Embora conservadorismo, na cabeça das pessoas, lembre mofo e bolor, a verdade é que o conservadorismo está voltando a ser levado a sério por aqui. E quais são as principais teses defendidas pelos conservadores?
A principal delas afirma que é muita pretensão a nossa de querer virar o mundo do avesso, ignorando toda a experiência, os ajustes e o processo de tentativas e erros obtidos em milênios de civilização. Tal abandono do passado pode ser útil no que tange às ciências exatas, mas revela-se quase sempre desastroso quando aplicado às ciências humanas. Na História humana, os grandes avanços sempre se deram pela evolução, nunca pela revolução. As grandes revoluções, como a francesa ou a russa, sempre foram muito eficientes na derrubada das instituições que já existiam, mas nunca souberam como pôr outras melhores em seu lugar.
Outra tese, dentre as principais, se resume numa frase proclamada por sir Isaac Newton (1643-1727): àqueles que lhe indagavam como conseguira formular a Teoria da Física Mecânica, respondia que nada fizera de mais, apenas "se debruçara sobre os ombros de gigantes". Queria o cientista inglês dizer que nada daquilo seria possível se não tivesse contado com o conhecimento acumulado por todos os que o precederam. Os conservadores também pensam dessa forma. A realidade tal qual a conhecemos é o produto de milênios de tentativas, erros e acertos. Sendo assim, é muito pouco provável que nós, modernos, venhamos a fazer alguma grande descoberta em termos de moral ou de política.
Filósofos de araque existem em profusão. Todos pregam mudanças radicais na natureza humana. E foram justamente eles - que prometiam a perfeição do homem e da sociedade - que transformaram grande parte do século passado num verdadeiro inferno terrestre.
O ceticismo quanto à perfeição humana é outro aspecto importante do pensamento conservador. Nós conseguimos realizar mudanças na natureza exterior. Já a natureza humana se tem mostrado praticamente imutável. O conservador não acredita que exista algum homem tão acima da média, tão isento de paixões e preconceitos que se possa com tranquilidade entregar-lhe um poder sem limites. Assim sendo, a melhor forma de governo é mesmo a democracia. Esta dispõe dos freios e contrapesos (checks and balances) necessários para refrear logo no nascedouro qualquer tentação totalitária. A sociedade possui anticorpos. E eles são acionados sempre que há exorbitância de poder.
O grande autor moderno do conservadorismo é Russell Kirk (1918-1994) e no passado foi Edmund Burke (1729-1797). Este último, além de ter sido o grande precursor dos princípios conservadores, notabilizou-se por ter escrito um livro intitulado Reflexões sobre a Revolução em França, no qual, ainda no calor dos acontecimentos, defende ardorosamente o sistema político inglês - de reformas graduais, em contraposição ao extremismo e às exorbitâncias que ocorriam do outro lado do Canal da Mancha. Depois que Luiz XVI foi guilhotinado, em 1792, Burke voltaria ao tema, argumentando que os franceses teriam cometido um erro político gravíssimo: "Vocês ainda haverão de se arrepender amargamente deste ato. Ao invés de fazer como a Inglaterra, que em 1688 promoveu todas as reformas necessárias pacificamente e ainda com a chancela real, vocês, franceses, acabam de proclamar oficialmente a sua orfandade. E viverão eternamente carentes de um rei". Os fatos demonstraram que Burke tinha razão. Depois de Luiz XVI, os franceses viriam a proclamar diversos reis e imperadores, sendo o mais importante deles Napoleão Bonaparte.
Nos dias de hoje, quem passa por cima do viaduto d'Alma, em Paris, encontra uma espécie de santuário onde muitos acendem velas e pedem milagres. Nesse mesmo local, uns 20 metros abaixo, num acidente de automóvel, morreu Lady Di. Diana Frances Spencer não era uma santa (longe disso), mas foi uma princesa. Seria mais um indício de que Burke tinha razão?
Voltando às principais teses conservadoras, um conservador de verdade não tolera o relativismo moral. Ainda no século passado, terríveis consequências sofreram os povos onde ocorreu um colapso da ordem moral, onde os cidadãos transigiram quanto a isso. A moral há de ser uma só, seja ela fruto de revelação divina ou tenha sido forjada pela convenção humana. Ela é o resultado de um arranjo costumeiro, cuja origem data de tempos imemoriais. E é ela que nos preserva do abismo.
O pensamento conservador, nos dias atuais, vem ganhando relevo justamente porque os recursos naturais estão se tornando exíguos. Três décadas atrás ninguém demonstrava a menor preocupação com esse tema. Agora ele ocupa o proscênio das preocupações humanas. O polêmico aquecimento global e o esgotamento de matérias-primas importantes põem na ordem do dia a necessidade premente de preservar. E preservar é a principal bandeira do pensamento conservador - que não cuida somente de instituições sociais, mas abrange tudo o que diz respeito à humanidade.
Quem imaginava ser a ecologia uma bandeira de esquerda percebe agora que não é. Foi o comunismo, aliás, o regime político que mais sacrificou a natureza. Tudo em nome do progresso, conceito que vem sendo cada vez mais questionado pela opinião pública esclarecida. Os adeptos mais exaltados do pensamento conservador não acreditam na existência de progresso algum. Eles defendem, sim, mudanças graduais.
Os principais países desenvolvidos têm, todos eles, partidos conservadores que disputam e vencem eleições. Por que será que só aqui, no Brasil, os conservadores relutam em se admitir como tal?
Se o problema é a falta de alguém que puxe o cordão, tudo bem. Eu me declaro um conservador. E não tenho por que ter vergonha disso.


João Mellão Neto, jornalista, foi deputado, secretário e ministro de estado.

Publicado no jornal O Estado de São Paulo.

Criacionismo: Finalmente alguém coerente na VEJA

segunda-feira, novembro 26, 2012

Parada gay, cabra e espinafre

[...] O primeiro problema sério quando se fala em “comunidade gay”é que a “comunidade gay” não existe – e também não existem, em consequência, o “movimento gay” ou suas “lideranças”. Como o restante da humanidade, os homossexuais, antes de qualquer outra coisa, são indivíduos. Têm opiniões, valores e personalidades diferentes. Adotam posições opostas em política, religião ou questões éticas. Votam em candidatos que se opõem. Podem ser a favor ou contra a pena de morte, as pesquisas com células-tronco ou a legalização do suicídio assistido. Aprovam ou desaprovam greves, o voto obrigatório ou o novo Código Florestal – e por aí se vai. Então por que, sendo tão distintos entre si próprios, deveriam ser tratados como um bloco só? Na verdade, a única coisa que têm em comum são suas preferências sexuais – mas isso não é suficiente para transformá-los num conjunto isolado na sociedade, da mesma forma como não vem ao caso falar em “comunidade heterossexual” para agrupar os indivíduos que preferem se unir a pessoas do sexo oposto. A tendência a olharem para si mesmos como uma classe à parte, na verdade, vai na direção exatamente contrária à sua principal aspiração – a de serem cidadãos idênticos a todos os demais.
Outra tentativa de considerar os gays como um grupo de pessoas especiais é a postura de seus porta-vozes quanto ao problema da violência. Imaginam-se mais vitimados pelo crime do que o resto da população; já se ouviu falar em “holocausto” para descrever a sua situação. Pelos últimos números disponíveis, entre 250 e 300 homossexuais foram assassinados em 2010 no Brasil. Mas. num país onde se cometem 50 000 homicídios por ano, parece claro que o problema não é a violência contra os gays; é a violência contra todos. Os homossexuais são vítimas de arrastões em prédios de apartamentos, sofrem sequestros-relâmpago, são assaltados nas ruas e podem ser monos com um tiro na cabeça se fizerem o gesto errado na hora do assalto – exatamente como ocorre a cada dia com os heterossexuais; o drama real, para todos, está no fato de viverem no Brasil. E as agressões gratuitas praticadas contra gays? Não há o menor sinal de que a imensa maioria da população aprove, e muito menos cometa, esses crimes; são fruto exclusivo da ação de delinquentes, não da sociedade brasileira.
Não há proveito algum para os homossexuais, igualmente, na facilidade cada vez maior com que se utiliza a palavra “homofobia”; em vez de significar apenas a raiva maligna diante do homossexualismo, como deveria, passou a designar com frequência tudo o que não agrada a entidades ou militantes da “causa gay”. Ainda no mês de junho, na última Parada Gay de São Paulo, os organizadores disseram que “4 milhões” de pessoas tinham participado da marcha – já o instituto de pesquisas Datafolha, utilizando técnicas específicas para esse tipo de medição, apurou que o comparecimento real foi de 270000 manifestantes, e que apenas 65000 fizeram o percurso do começo ao fim. A Folha de S.Paulo, que publicou a informação, foi chamada de “homofóbica”. Alegou-se que o número verdadeiro não poderia ter sido divulgado, para não “estimular o preconceito”- mas com isso só se estimula a mentira. Qualquer artigo na imprensa que critique o homossexualismo é considerado “homofóbico”; insiste-se que sua publicação não deve ser protegida pela liberdade de expressão, pois “pregar o ódio é crime”. Mas se alguém diz que não gosta de gays, ou algo parecido, não está praticando crime algum – a lei. afinal, não obriga nenhum cidadão a gostar de homossexuais, ou de espinafre, ou de seja lá o que for. Na verdade, não obriga ninguém a gostar de ninguém; apenas exige que todos respeitem os direitos de todos.
Há mais prejuízo que lucro, também, nas campanhas contra preconceitos imaginários e por direitos duvidosos. Homossexuais se consideram discriminados, por exemplo, por não poder doar sangue. Mas a doação de sangue não é um direito ilimitado – também são proibidas de doar pessoas com mais de 65 anos ou que tenham uma história clínica de diabetes, hepatite ou cardiopatias. O mesmo acontece em relação ao casamento, um direito que tem limites muito claros. O primeiro deles é que o casamento, por lei, é a união entre um homem e uma mulher; não pode ser outra coisa. Pessoas do mesmo sexo podem viver livremente como casais, pelo tempo e nas condições que quiserem. Podem apresentar-se na sociedade como casados, celebrar bodas em público e manter uma vida matrimonial. Mas a sua ligação não é um casamento – não gera filhos, nem uma família, nem laços de parentesco. Há outros limites, bem óbvios. Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar. Não pode se casar com a própria mãe. ou com uma irmã. filha, ou neta, e vice-versa. Não poder se casar com uma menor de 16 anos sem autorização dos pais. e se fizer sexo com uma menor de 14 anos estará cometendo um crime. Ninguém, nem os gays, acha que qualquer proibição dessas é um preconceito. Que discriminação haveria contra eles. então, se o casamento tem restrições para todos? Argumenta-se que o casamento gay serviria para garantir direitos de herança – mas não parece claro como poderiam ser criadas garantias que já existem. Homossexuais podem perfeitamente doar em testamento 50% dos seus bens a quem quiserem. Tem de respeitar a “legítima”", que assegura a outra metade aos herdeiros naturais – mas essa obrigação é exatamente a mesma para qualquer cidadão brasileiro. Se não tiverem herdeiros protegidos pela “legítima”, poderão doar livremente 100% de seu patrimônio – ao parceiro, à Santa Casa de Misericórdia ou à Igreja do Evangelho Quadrangular. E daí?
A mais nociva de todas essas exigências, porém, é o esforço para transformar a “homofobia” em crime, conforme se discute atualmente no Congresso. Não há um único delito contra homossexuais que já não seja punido pela legislação penal existente hoje no Brasil. Como a invenção de um novo crime poderia aumentar a segurança dos gays, num país onde 90% dos homicídios nem sequer chegam a ser julgados? A “criminalização da homofobia”é uma postura primitiva do ponto de vista jurídico, aleijada na lógica e impossível de ser executada na prática. Um crime, antes de mais nada. tem de ser “tipificado” – ou seja, tem de ser descrito de forma absolutamente clara. Não existe “mais ou menos” no direito penal; ou se diz precisamente o que é um crime, ou não há crime. O artigo 121 do Código Penal, para citar um caso clássico, diz o que é um homicídio: “Matar alguém”. Como seria possível fazer algo parecido com a homofobia? Os principais defensores da “criminalização” já admitiram, por sinal, que pregar contra o homossexualismo nas igrejas não seria crime, para não baterem de frente com o princípio da liberdade religiosa. Dizem, apenas, que o delito estaria na promoção do “ódio”. Mas o que seria essa “”promoção”? E como descrever em lei, claramente, um sentimento como o ódio? [...]
(J.R. Guzzo, revista Veja, 14 de novembro de 2012)
Nota: Um amigo que estudou cinema/roteirização nos EUA me disse que metade do grupo de professores de sua escola é homossexual, e um dos professores certa vez lhe disse: “Estamos conquistando a opinião pública para nossa causa. Sabe como? Por meio da mídia, da indústria cultural.” E isso é fato. Em quase todo filme, novela, seriado, etc. existe alusão ao homossexualismo e promoção desse estilo de vida. Essa propaganda toda já está surtindo efeito.[MB]

MSM: Regra Geral

anticommieSe vocês ainda não notaram, aproveitem o festival de homicídios em São Paulo como ocasião perfeita para notar esta regra geral nunca desmentida: com a mesma constância com que em qualquer nação agrária e atrasada as revoluções socialistas resultam imediatamente na instauração de ditaduras genocidas, em todo país mais ou menos próspero e democrático onde a esquerda se torne hegemônica as taxas de criminalidade sobem e não param mais de subir. O primeiro desses fenômenos observou-se na Rússia, na China, na Coréia do Norte, no Camboja, em Cuba etc. O segundo, na França, na Inglaterra, na Argentina, na Venezuela, nos EUA, no Brasil e um pouco por toda parte no Ocidente.
Por que? E há alguma relação entre essas duas séries de fatos?

Todo o esquema socialista baseia-se na idéia de Karl Marx de que o proletariado industrial é a classe revolucionária por excelência, separada da burguesia por uma contradição inconciliável entre seus interesses respectivos.
Quando um partido revolucionário toma o poder numa nação atrasada, predominantemente agrária, como a Rússia de 1917 e a China de 1949, não encontra ali uma classe proletária suficientemente numerosa para poder servir de base à transformação da sociedade. O remédio é apelar à industrialização forçada, para criar um proletariado da noite para o dia e “desenvolver as forças produtivas” até o ponto de ruptura em que a burguesia se torne desnecessária e possa ser substituída por administradores proletários. Para isso é preciso instaurar uma ditadura totalitária que possa controlar e remanejar a força de trabalho a seu belprazer (Trotski chamava isso de “militarização do trabalho”). Daí a semelhança de métodos entre os regimes revolucionários socialistas e fascistas: ambos têm como prioridade a industrialização forçada, com a única diferença de que os fascistas a desejam por motivos nacionalistas e os socialistas pelo anseio da revolução mundial.
Já quando a esquerda revolucionária sobe ao poder por via eleitoral numa nação mais ou menos democrática e desenvolvida, ela encontra um proletariado numeroso e às vezes até organizado. Mas é um proletariado que já não serve como classe revolucionária, porque a evolução do capitalismo, em vez de empobrecê-lo e marginalizá-lo como previa Marx, elevou seu padrão de vida formidavelmente e o integrou na sociedade como uma nova classe média, indiferente ou hostil à proposta de revoluções. Para não ficar socialmente isolados e politicamente ineficazes, os revolucionários têm de encontrar algum outro grupo social cujo conflito de interesses com o resto da sociedade possa ser explorado. Mas não existe nenhum que tenha com a burguesia um antagonismo econômico tão direto e claro, um potencial revolucionário tão patente quanto aquele que Karl Marx imaginou enxergar no proletariado. Não havendo nenhuma “classe revolucionária” pura e pronta, o remédio é tentar formar uma juntando grupos heterogêneos, movidos por insatisfações diversas.
Daí por diante, quaisquer motivos de queixa, por mais subjetivos, doidos ou conflitantes entre si, passarão a ser aproveitados como fermentos do espírito revolucionário. O preço é a dissolução completa da unidade teórica do movimento, obrigado a acolher em seu seio os interesses mais variados e mutuamente incompatíveis. Narcotraficantes sedentos de riqueza e poder, ladrões, assassinos e estelionatários revoltados contra o sistema penal, milionários ávidos de um prestígio político (ou até intelectual) à altura da sua conta bancária, professores medíocres ansiosos para tornar-se guias morais da multidão, donas de casa pequeno-burguesas insatisfeitas com a rotina doméstica, estudantes e pequenos intelectuais indignados com a sociedade que não recompensa os seus méritos imaginários, imigrantes recém-chegados que exigem seu quinhão de uma riqueza que não ajudaram a construir, pessoas inconformadas com o sexo em que nasceram – todos agora marcham lado a lado com lavradores expulsos de suas terras, pais de família desempregados e minorias raciais discriminadas, misturando numa pasta confusa e explosiva os danos reais e supostos, objetivos e subjetivos, que todos acreditam ter sofrido, e lançando as culpas num alvo tão onipresente quanto impalpável: o “sistema” ou “a sociedade injusta”.
Sendo obviamente impossível unificar todos esses interesses numa construção ideológica coerente e elegante como o marxismo clássico, a solução é apelar a algo como a “teoria crítica” da Escola de Frankfurt, que atribui ao intelectual revolucionário a missão única de tudo criticar, denunciar, corroer e destruir, concentrando-se no “trabalho do negativo”, como o chamava Hegel, sem nunca se preocupar com o que vai ser posto no lugar dos males presentes. O sr. Lula nunca estudou a teoria crítica, mas fez eco ao falatório dos intelectuais ao seu redor quando, após vários anos na presidência e duas décadas como líder absoluto do Foro de São Paulo, confessou: “Ainda não sabemos qual o tipo de socialismo que queremos.” Não sabemos nem precisamos saber: só o que interessa é seguir em frente – forward, como no lema de campanha de Barack Hussein Obama --, acusando, inculpando e gerando cada vez mais confusão que em seguida será debitada, invariavelmente, na conta da “sociedade injusta”.
Se na esfera intelectual essa atitude chegou a produzir até a negação radical da lógica e da objetividade da linguagem e a condenar como autoritária a simples exigência de veracidade, como não poderia suscitar, no campo da moral social, o florescimento sem precedentes da amoralidade cínica e da criminalidade galopante?

Criacionismo: Mais um sinal de que o FIM está próximo

Mundo caminha para a aceitação do casamento gay

Pela primeira vez nos EUA, três estados aprovaram nas urnas em 6 de novembro o casamento de pessoas do mesmo sexo, dando um ponto final a uma sucessão de derrotas eleitorais para a medida em 32 estados. Um quarto estado rejeitou um veto ao casamento gay. Na católica França, o novo governo socialista acaba de aprovar uma lei que permite esse tipo de casamento. A Nova Zelândia está se preparando para aprovar uma legislação similar no ano que vem. Os governos da Inglaterra e da Escócia também se comprometeram a fazer o mesmo em breve. E na Espanha uma lei do casamento gay foi aprovada há sete anos e finalmente recebeu um selo de aprovação do Tribunal Constitucional.
Apenas 12 anos após a Holanda ter se tornado o primeiro país a legalizar as núpcias homossexuais, a tendência global rumo à concessão de direito integral de casamento aos homossexuais parece estar se consolidando em um ritmo inexorável. O casamento homossexual agora é legal em nível nacional em 11 países, Argentina e África do Sul inclusive, bem como em partes de outros dois. No México, gays podem se casar na capital e nove estados dos EUA bem como a capital legalizaram o casamento homossexual, na maior parte dos casos por via de contestações judiciárias.
Para além disso, em 78 países – a sua maioria no mundo muçulmano, África e outros países em desenvolvimento – o sexo homossexual ainda é crime, passível de ser punido com vários anos de encarceramento e até execução. A oposição contra o casamento gay ainda é forte, particularmente de igrejas, grupos conservadores e alguns políticos.
Mas as atitudes estão mudando – e rapidamente. Há 50 anos a homossexualidade em si era um crime na maior parte do mundo. A Grã-Bretanha só descriminalizou a prática em 1967 e somente em 2003 a Suprema Corte americana invalidou as leis de sodomia que ainda vigoravam em 14 estados. Hoje em dia, na maior parte do Ocidente, pesquisas de opinião mostram uma maioria da opinião pública a favor da igualdade para os gays, a favor inclusive de permitir que eles casem e adotem crianças. Há 10 anos, dois terços dos americanos eram contra o casamento gay; agora, mais da metade, incluindo alguns católicos, são a favor. Tendência similares podem ser percebidas em outros países ocidentais.
Por que essa mudança tão rápida, a qual surpreendeu até muitos ativistas? Parte dela é geracional. Pessoas mais jovens que cresceram em uma era mais tolerante simplesmente não conseguem entender porque tanto barulho por nada. Mas se trata também de uma mudança de comportamento entre os gays em si. Conforme as leis homofóbicas caíram, mais homossexuais saíram do armário. E à medida que seus vizinhos heterossexuais os viram levando vidas familiares felizes – incluindo crianças – sem que isso implicasse o fim do mundo, eles se tornaram mais amplamente aceitos.
Nota: Para quem ainda duvida de que o mundo está indo ladeira abaixo no quesito moralidade, mais uma evidência: de acordo com informações publicadas no Portal R7, o Festival Caldas Country, em Caldas Novas (GO), realizado nos dias 17 e 18 de novembro, reuniu milhares de pessoas para assistir aos shows e deixar um rastro de vandalismo e criminalidade no local. Considerado o maior festival musical do gênero no país, com uma estrutura gigantesca, o Caldas Country gerou saldo de 12 mortes, 21 estupros e diversos casos de vandalismo e atentado ao pudor. Durante o show, várias pessoas foram flagradas praticando sexo pelo local (foto acima), escoradas nos carros estacionados, e consumindo drogas – tudo na frente de outras pessoas, o que mostra que há aceitação não apenas do casamento gay, mas de outros tipos de comportamento. Em tempo: São Paulo também terá uma das maiores festas de bebedeira do mundo: a Oktoberfest. O que não presta sempre se espalha. E isso, também, é evidência de que Jesus breve voltará e de que nossa dívida com Sodoma e Gomorra vai se tornando impagável.[MB]

MSM: A Nova Cruzada Laicista

  [Definitivamente, esse procurador não tem nada o que fazer. Quem sabe, mandando-o por um tour pelas mazelas do Brasil, ele não ache algo melhor contra que lutar, que uma inofensiva frase impressa em nosso dinheiro.]

A nova cruzada laicista

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Curiosamente, nem o eminente procurador, nem qualquer um dos defensores dessa visão laicista levantou a voz contra a permanência das estátuas da deusa pagã Têmis em todos os tribunais brasileiros.

A diversidade e a tolerância são dois fundamentos essenciais de qualquer sociedade justa. O embate entre ideias divergentes é uma força motriz de grande importância para a saúde social dos homens – desde que, claro, seja conduzida dentro dos limites morais, os quais são impossíveis de ignorar sem colocar em risco a própria civilização. Assim sendo, partimos do seguinte pressuposto: há, por um lado, muitas questões que são opináveis por se relacionarem a problemas contingenciais e, portanto, não se vertem em obrigações morais de per si; e, por outro lado, há questões que não são opináveis, cuja vigência independe das contingências locais e temporais por se relacionarem à natureza humana. Na defesa das questões opináveis, um indicador da seriedade de quem toma uma posição é a coerência. Exemplo: se eu defendo que o governo não deve se intrometer na economia, é lógico deduzir que eu também teria de defender que o salário mínimo fosse abolido. Quando nos deparamos com alguém que não apresenta essa coerência, há duas possibilidades: ou sua crença naquela ideia não é honesta, ou seus objetivos ao defender essa crença não são honestos.
Coerência e honestidade são, como sói acontecer nesses tempos revolucionários, artigos raríssimos cuja alarmante escassez nos fez, ao longo do tempo, transformá-los não em itens obrigatórios, mas em adornos acessórios. E existem alguns indivíduos que menosprezam completamente esses acessórios, não por ignorância, mas voluntariamente. Curiosamente, a esmagadora maioria desses indivíduos se auto-intitula “livre pensador”, “progressista” ou “libertário”, alegando serem dotados de “consciência social”, “espírito democrático” e outros termos politicamente corretos que estão na moda. Tudo isso é uma cortina de fumaça para esconder a real ânsia totalitária que subjaz a essa retórica florida e perfumada.

Dentre as inúmeras bandeiras levantadas pelo vulgo progressista, uma delas é a defesa do Estado laico – ou melhor, é isso o que eles alegam. O velho cadáver insepulto do laicismo, que já fedia na época dos jacobinos, parece ter um efeito hipnotizador sobre algumas mentes. A separação entre Igreja e Estado não foi suficiente, pelo visto: é preciso igualmente sufocar qualquer manifestação pública de religiosidade que respingue, de alguma forma, no trono do Leviatã. Nos últimos tempos, temos visto uma grande quantidade de ações vergonhosas que buscam levar o laicismo – um dos muitos artigos de fé do credo revolucionário – a todos os lugares, solapando aos poucos as manifestações públicas de crença religiosa. Em um discurso ao corpo diplomático junto à Santa Sé, afirmou o Papa João Paulo II:

As comunidades de crentes estão presentes em todas as sociedades, expressão da dimensão religiosa da pessoa humana. Por conseguinte, os fiéis esperam poder participar legitimamente no diálogo público. Infelizmente, deve-se observar que nem sempre é assim. Nestes últimos tempos, em certos países da Europa, nós somos testemunhas de uma atitude que poderia pôr em perigo o respeito efetivo pela liberdade de religião. Se o mundo inteiro concorda em respeitar o sentimento religioso dos indivíduos, não se pode dizer a mesma coisa do “fato religioso”, ou seja, da dimensão social das religiões, esquecendo-se dos compromissos assumidos no contexto daquela que então se chamava a “Conferência sobre a Cooperação e a Segurança na Europa”. Evoca-se com frequência o princípio da laicidade, em si mesma legítima, quando é compreendida como distinção entre a comunidade política e as religiões (cf. Gaudium et spes, 76). Todavia, distinção não quer dizer ignorância! Laicidade não é laicismo! Ela não é senão o respeito por todos os credos por parte do Estado, que assegura o livre exercício das atividades cultuais, espirituais, culturais e caritativas das comunidades dos crentes. Numa sociedade pluralista, a laicidade é um lugar de comunicação entre as diferentes tradições espirituais e a nação. Pelo contrário, as relações Igreja-Estado podem e devem dar lugar a um diálogo respeitoso, portador de experiências e de valores fecundos para o futuro de uma nação. Um diálogo sadio entre o Estado e as Igrejas que não são concorrentes, mas parceiros, pode sem dúvida favorecer o desenvolvimento integral da pessoa humana e a harmonia da sociedade.
No preâmbulo da Constituição Federal de 1988, diz-se que a Carta Magna foi promulgada “sob a proteção de Deus”. Apesar de se estabelecer claramente que, no Brasil, existe independência entre as religiões e o Estado – “[é] vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança” (Cf. Constituição Federal, art. 19, I) –, a deformada mente laicista vê nisso uma afronta ao princípio do Estado laico. Ela vê também na presença de crucifixos em repartições públicas uma evidência de que o Estado brasileiro não respeita a laicidade.

Mas não paramos por aí. A novidade agora é que a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo ajuizou pedido à Justiça Federal para que as cédulas de real não mais sejam impressas com a frase “Deus seja louvado”. Alegando que “é sabido que inúmeras pessoas têm sua liberdade de crença ofendida diante da ostentação da expressão ‘Deus seja louvado’ das cédulas brasileiras”, o procurador Jefferson Aparecido Dias – cuja formação foi fortemente influenciada pelo neomarxista Joaquín Herrera Flores e pelo jurista marxista Antonio Carlos Wolkmer, ligado a Roberto Lyra Filho e o chamado “Direito Achado na Rua” – defende que a liberdade religiosa não é respeitada no Brasil em virtude da presença dessa frase nas cédulas de dinheiro. E vai além:

[D]o mesmo modo que a presença de crucifixo em salas de aula pode representar diretriz a balizar os caminhos religiosos a serem seguidos pelos jovens alunos, com a mentalidade e caráter ainda em desenvolvimento, em razão da possibilidade de associação entre a religião ali representada e a escola, fonte do saber, assim também o é com a presença da expressão “Deus seja louvado” em cédulas de Real, devido à potencialidade da associação a ser realizada pelos jovens brasileiros, os quais também se utilizam do Real para atender suas necessidades materiais, entre as religiões que professam a fé em Deus e o dinheiro, instrumento de poder aquisitivo.
O eminentíssimo Dr. Aparecido Dias deve conhecer bastante o drama de todas aquelas “inúmeras pessoas têm sua liberdade de crença ofendida diante da ostentação da expressão ‘Deus seja louvado’ das cédulas brasileiras”. Ele aponta também que a “manutenção da situação em discussão constrange a liberdade de religião de todos os cidadãos que não cultuam Deus, tais quais os ateus e os que professam a religião budista, muçulmana, hindu e as diversas religiões de origem africana.”

É até de se imaginar a cena: um babalorixá – ou um praticante de wicca, ou um budista Mahayana, ou um muçulmano sunita, ou um sikh ostentando um suntuoso turbante colorido sobre o rosto barbado, ou até mesmo um daqueles ateus bem descolados, com direito a camiseta do Richard Dawkins – vai descontar um cheque na boca do caixa e recebe, trêmulo, notas e mais notas de real; nenhuma, nenhumazinha sequer, escapa do lastimável e grotesco destino de ter sua superfície tingida com as ignominiosas palavras “Deus seja louvado”. Descargas de adrenalina, uma trava na garganta, olhos embaçados... Ultrajante, simplesmente ultrajante.

Caso o zeloso Dr. Aparecido Dias prossiga em sua impetuosa cruzada contra quaisquer manifestações que, a exemplo da frase “Deus seja louvado” das notas de real, é possível induzir quais são as ações vindouras: a mudança do nome de todos os logradouros, bairros, vilas, cidades e estados que levam nomes de cunho cristão – Espírito Santo, São João Del Rey, São Paulo, Santa Catarina, Belém, e inúmeros outros – para nomes neutros que não ofendam os não-cristãos; a eliminação de todos os feriados e pontos facultativos motivados por religião, como o dia de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro); a proibição da instalação de presépios e outras decorações de Natal por parte dos governos federal, estaduais e municipais; a proibição do uso de adornos de cunho religioso por parte de servidores públicos durante o horário de expediente; a dissolução das capelanias das corporações militares; e, por que não?, a mudança do calendário – afinal, essa história de “antes de Cristo” e “depois de Cristo” claramente privilegia Jesus em detrimento de outras figuras religiosas, certo?

Curiosamente, nem o eminente procurador, nem qualquer um dos defensores dessa visão laicista levantou a voz contra a permanência das estátuas da deusa pagã Têmis em todos os tribunais brasileiros. Aliás, não há qualquer menção de se constranger manifestações públicas de qualquer religião exceto o cristianismo. Quando a organização da Parada Gay de São Paulo – financiada largamente com dinheiro público, diga-se de passagem – utilizou, em 2011, fotos que imitavam santos da Igreja Católica em suas propagandas, ou quando invadiram a igreja de Nossa Senhora de Copacabana durante um protesto feminista, nada foi dito quanto ao constrangimento da liberdade religiosa dos cristãos. O que parece estar em jogo não é a liberdade religiosa dos cidadãos brasileiros, mas o aparente excesso de liberdade religiosa dos cristãos.

Aliás, vale mencionar algo no mínimo irônico. As notas de real levam impressas a efígie da República, imagem construída pelos revolucionários jacobinos durante o banho de sangue que promoveram na França de fins do século XVIII. A imagem da República, batizada pelos jacobinos de Marianne, teve uma inusitada inspiração: a sacerdotisa Semíramis, esposa de Nimrod. O soberano Nimrod foi o governante babilônico que, considerando ser uma injusta escravidão servir a Deus, decidiu desafiá-Lo construindo a Torre de Babel. Nimrod queria mostrar com isso que o homem não precisava de Deus para absolutamente nada, e que era um dever do homem fazer pouco do Criador.

Qualquer semelhança com a situação atual não é mera coincidência.


Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UnB.